domingo, 8 de janeiro de 2012

A geração que revolucionou, a geração que vai revolucionar...

Só agora eu resolvi comentar a entrevista que o Dexter deu essa semana pra MTV (tá aqui ó: http://mtv.uol.com.br/musica/dexter-midia-quer-criar-movimentinho-paralelo-ao-rap  - não disse que eu era tardia?!). Pois bem, assim que a li, me recordei que, no fim do ano passado, assisti a um show fera do Emicida com o Dexter no Centro Comunitário a UnB. Lembro-me de ter ficado louca porque antes deles entrarem no palco, rolou o X, ex- Câmbio Negro, cantando Sub-Raça (nunca tinha visto ao vivo).  Na hora que testemunhei Dexter e Emicida cantando juntos, naquele palco (nas universidades brasileiras apenas 2% dos alunos são negros? LEMBRAM?! AÇÕES AFIRMATIVAS MODIFICARAM ESSA ESTATÍSTICA, mas isso é outro assunto), redoma-mór da elite, só pensei isso: tiveram que engolir a “sub-raça”.
É evidente o respeito mútuo existente entre os dois artistas. Na entrevista em questão, Dexter reconhece o trabalho dos companheiros Emicida e Criolo, porém, faz suas ressalvas em relação ao uso que esses fazem da mídia ou do uso que a mídia faz desses. O que eu consigo ver é o trabalho da mídia corporativa sendo feito de maneira bastante eficaz, Dexter, no fim das contas, acaba sendo subutilizado por ela como lenha de uma fogueira que a mesma não pretende apagar tão cedo, atiçando fogo no “movimentinho paralelo” que ele mesmo denuncia que ela promove.  Esfacelar e tornar antagônico o trabalho de duas gerações com acessos, vivências e experiências diferentes (mas nem tanto) é tentar fazer um duelo MMA RuthXRaquel (Mulheres de Areia, todxs sabem, hehehe) rolar num pseudo-octógono do rap.  Concordo com o Dexter quando ele fala que é preciso cautela pra lidar com a mídia, discordo do Emicida quando ele diz que a TV é um grande veículo que leva informações, enfim, sem pesar de fato o trabalho de silenciamento que ela promove para “levar informações”. O fato é que o extremismo dos 8 ou 80 é fadado ao fracasso, e isso já é um é clichê. Dexter pode agir como uma peça de dama na mão dessa galera que quer vender um embate, e não um debate, para outra galera-criada-a-sustagem-e-leite-ninho- que- passa- os- domingos- no- parque.  Emicida escolheu levar suas críticas pra dentro da Casa Grande, mas ainda fica o receio do reduto de Gilberto Freyre maquiar sua denúncia transformando-a na falácia democracia que só funciona na literatura.
Para além de não comprarmos o MMA que a Maldita Mídia Anencéfala nos quer empurrar, é preciso olhar diacronicamente para o rap brasileiro e perceber o chão bem fundamentado que a “geração que revolucionou” construiu para que a “geração que vai revolucionar as novas” pudesse existir. A música sempre será um movimento, uma dinâmica social que transpõe os conflitos que presencia para seu fazer subjetivo através de vozes inseridas nos mais diversos lugares de discursos. O início da década de 90 apresentava o cenário de uma geração que começava a esquecer do sabor do chumbo na boca, isso falando da classe média, imagina o povo preto pobre que gosto não sentia? O do VAZIO, certamente. É evidente que o surgimento do rap, uma música que queria e quer vociferar contra as mazelas, naquele momento, se daria da maneira mais acirrada possível e isso é algo que ninguém nunca vai conseguir tirar do rap. Tive uma paixonite pré-adolescente por um rapaz de Taguá, apelidado “Preto tipo A”, que correspondeu ao meu interesse e falava pros amigos que ía “buscar a preta dele no portão da escola”. Ali, através daquelas vozes graves que enunciaram o negro drama para todo o país, me percebi preta. Essa foi A revolução que geração que revolucionou ofertou à minha. A galera nova que vai aos shows do Emicida, muitas vezes, tem o primeiro contato com esse fundamento do rap brasileiro através do set do DJ Nyack nos intervalos, adolescentes conhecem Sabotage, RZO, Racionais, 509E e, assim, a geração que vai revolucionar estabelece a linha do tempo do rap e saúda os antecessores para construir sua trajetória.
Anos se passaram, o tempo de me buscarem no portão da escola também, cursei a universidade (COTISTA, SIM!) e agora me enveredei no Mestrado. Minha trajetória e a da minha família acompanharam as mudanças empreendidas no seio da sociedade brasileira nos oito anos do governo Lula. O aumento relativo do poder de compra das classes mais baixas e o surgimento de políticas públicas (nunca antes vistas na história desse país) direcionadas a quem sempre morou no barraco de pau lá da pedreira, sacudiram o cenário social atual. Hoje, existe uma geração com novos anseios de revolução, uma pá de gente que faz seus corres e agora viaja de avião, faz um rolê no shopping ou compra um tênis maneiro, mas que, ainda, vê a moça do check-in fazer cara feia para atendê-la, ainda se percebe persona-non-grata quando entra em certas lojas e vê a legitimidade de suas conquistas materiais sendo postas em xeque constantemente.  A leitura que faço do rap, que a mídia corporativa tenta fagocitar atualmente, é que ele põe pra jogo o sentimento de quem hoje, minimamente, se desloca. Zygmunt Bauman, em Cidadania e Globalização: as consequências humanas, diz que muita gente ainda está imóvel e vê seu único chão “deslocar-se sobre seus pés”, não podemos cair na ignorância de achar que está tudo lindo e a mobilidade é uma benesse do mundo globalizado. Porém, (ainda bem que HÁ PORÉM nesse caso) paulatinamente,  estamos galgando espaços, enegrecendo-os e contrariando as estatísticas. Daí que se em meio a esse não-lugar a gente ouve um cara, que podia ser um primo nosso, dizendo que tá cansado de “só os ternos serem pretos nos lugares chiques” rola uma gargalhada-alívio de quem encontrou compreensão e pensa que ele sacou tudo.
Trata-se de uma geração do rap que está revolucionando outra, a juventude 90 (preciso dizer que já não é a minha? rs),  uma galera que cresceu lançando mão de ferramentas muito interativas, numa velocidade louca, fragmentados diante de muitas identidades, que se ama muito (quantas fotografias, cores, auto-culto...hehehe) e que, por isso mesmo, quer ouvir sobre o afeto  também! Cada revolução tem suas especificidades e as atuais têm na rede, seu campo de mobilização, uma ferramenta preciosa. Essa sim, eu acredito, consegue burlar a mídia-meia-boca e fazer-se projetar de forma menos mediada e manipulada.  Somos pretxs em movimento, como já disse o Mensageiro da Verdade Bill, e o que a mídia esquece de ressaltar é que para essas duas gerações revolucionárias do rap a máxima “você sai do gueto, mas o gueto nunca sai de você” é o que as unifica, morô, irmãos(as) ?


9 comentários:

  1. Andressa, curti o post aê. Fico viajando que eu, branco de classe média de cidade super racista do Sul de Minas só fui me dar conta de que rap existia quando no colégio alguns dos poucos colegas negros cantavam músicas dos Racionais pelo corredor e uma parte (pequena) da galera foi curtindo. Aí fui me dando conta de que os moleques negros dos bairros pobres da cidade quase todos usavam camisetas e bonés dos Racionais, era toda uma geração de uma classe e de uma cor que tava pirando num negócio muito doido que eu nunca tinha visto na TV.

    O seu post também me lembrou uma entrevista que o Mano Brown deu pra Rolling Stone, uns dois anos atrás, que ele até saiu na capa, todo sex symbol, e que uma galera ficou chamando ele de vendido, que ele tava se vendendo pros grandes veículos de comunicação que ele sempre criticou e etc. Aí fico pensando em como a classe média que aprendeu a consumir rap ouvindo Racionais ou que hoje ouve Emicida e Criolo, fica sempre esperando que o rap seja o outro, que seja só música de resistência, como se ele fosse o mártir que a classe média de esquerda precisasse pra apontar o dedo e falar que ali tem resistência. Mas nessa onda o outro vai sendo exotizado como o periférico que só tem entrada no mundo da arte como protesto. Já ouvi um monte de vezes gente falando que gosta de rap, mas que não curte rap falando de amor, que não combina, ou que este ou aquele artista é vendido pq vai na tv, sai em revista pop, etc. Mas é isso aí, é protesto e é afeto e é um monte de outras coisas...

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  2. Caio, você tocou num ponto crucial: essa galera exige que o rap esteja a serviço DE algo que funcione pra eles como escape-culpa da classe média. Tipo "eu escuto, eu tô com eles, eu me "solidarizo", mas não me venha falar de qualquer outra coisa pq já faço muito ouvindo seu protesto". Poço sem fundo do exótico agindo novamente! =S
    Que bom que você gostou do post, massa! =D
    Bjxs

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  3. Bom Andressa, discordo um pouco de sua análise sobre essa história entre Dexter e Emicida. Bom Dexter crítica o Emicida e sua relação com a mídia, dando entrevista para MTV, por critica utilizando como meio a MTV! que faz parte da grande midia. Eu não gosto muito do Dexter, seu rap é massa, as músicas dele são bastante interressante, mas ele como pessoa é muito arrogante. Eu concordo com o Dexter com a crítica a "nova geração do rap", e essa crítica não é so feita pelo Dexter, é feito pela galera do facção central um grupo de São Paulo, o Gíria Vermelha um grupo do Maranhão, dentre outros grupos. O Rap ja mostrou várias vezes que não precisa da mídia, o expemplo clássico é o Racionais, que vende milhares de Cds sem precisa ir ao Fautão, os caras são tão fodas que montaram um sistema de divilgução do seu trabalho paralelo a grande mídia, como também no facção central. Aqui no DF temos como expemplo a galera do vadiosloucos ( ja ouviu?), que nunca foram para grande mídia, e estoram nas quebras do DF. Por isso quando tem pessoas se apropriando do rap e indo para mídia claro que a galera desconfiam, todos os moleques correria da perifa desconfiam. O Racionais e o facção central (que na minha opinião são os dois maiores grupo de rap atualmente) não vão pra mídia não pq querem serem marrentos ou revulucionários puros, muitas vezes o Eduardo vocalista do facção, falou que iria tranquilo canta na globo, mais tinha que ser as mesmas musicas que eles tocam no show, isso a galera da mídia nunca iria aceita, imagina o facção tocando "isso aqui é uma guerra" no Faustão ( cara seria muito doido). Então as criticas feita a essa " nova geração do rap" ( para mim não é) são feitas diariamente pelos grupos de rap da perifa. Sobre a essa "nova geração do rap", creio que na perifa não é. Nunca ouvi em um baile de rap aqui na quebrada ( Ceilândia) alguma musica do Emicida, Criolo, Projota, Rashid, nunca ouvi esses caras em um Baile! Então essa renovação do rap ainda não chegou na periferia. Esses caras, pelo que eu sei, so fazem show no centro e nunca na quebrada, na periferia, o Emicida veio aqui no DF, e nunca fez um show na CEI o berço do rap do DF, a quebra que disputar com São Paulo, na questa de ser o maior polo de rap do Brasil ( hj Planaltina entrou na briga), quando ele vem aqui vai pra UnB tocar para os playboys do shopping ( ou os braquinhos), essa nova geração não esta presente na periferia, eles foram criados pela mídia para fazer rap para os branquinhos da classe média, é fato! hoje os braquinhos de classe média querem ouvi rap, para dizerem que são correrias, vida louca e assim por diante. Aqui na quebrada a nova geração é Tribo da Periferia, Pacificadores, Vadiosloucos, Atitude Feminina, Viela 17 entre outros. Aqui na quebrada ouvimos o seguinte
    " os versos do reino da morte ditam a sua sorte, a nossa vida ja é escassa em ceilândia norte" (alibi). Então essa "nova geração" e a primeira geração do rap feito para a classe média, pois aqui na periferia essa nova geração ainda não ghegou. Qualquer dia vem aqui na quebrada, para frequenta a nossa balada e ver a nossa renovação no rap feito pelos moloques correira para os moleques correria.

    Jean Michel.

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  4. Oi, Jean!
    Obrigada por compartilhar suas opiniões aqui. É fato, temos algumas discordâncias, mas o bom do campo das ideias é a troca. Eu acompanho as críticas feitas por diversos grupos à galera que hoje apresenta outra perspectiva de fazer rap, concordo contigo quando diz que Facção e Racionais são os melhores grupos de rap da atualidade, há dois anos (já que eles acabaram =S) eu colocaria o Costa a Costa (CE) e o Clã Nordestino (MA) nessa lista. O lance é que amarras me assustam, tento pensar nos fatos de forma diacrônica e vejo que é um retrocesso não encararmos as mudanças significativas que invadiram as periferias hoje e que são incorporadas ao rap também. A capacidade de fazer-se divulgar sem a grande mídia é revolucionário e brilhante no rap, há clipes dos Pacificadores no YouTube com mais de 8 milhões de acessos!!! Eu sinceramente admiro um movimento que consegue colocar a mídia no bolso e fazer sua música correr o mundo, corre tanto que é fato: playboy escuta Racionais MC’s e Facção também e o que a gente faz com isso? A classe média hoje escuta rap não por conta do Emicida e do Criolo, esse debate já rolou quando surgiu Gabriel O Pensador e o Marcelo D2 no fim da década de 90, auge dos Racionais!Dois que não se sustentaram por baixa qualidade, enfim. O fato é que eu não boto fé em tentar amarrar o rap num tradicionalismo: só se faz assim, assado, falando disso, tocando só aqui, por essa figura etc. Há um rap com temas mais militantes, traduzindo o dilema de um jovem que tá cansado de apanhar de PM, cansado de sofrer racismo no colégio por parte dos professores, cansando do pai bêbado ou da inexistência dele, cansado de não ter a mãe por perto pq ela trabalha fora na criando filhos alheios, cansado de esperar e querendo agir do jeito que der pra ter dinheiro, cansado de ser nada na sociedade que diz oferecer tudo: “minha vida não tem tanto valor quanto seu celular, seu computador”. Esse rap não é consonante com o mundo democrático que é vendido pra gente pela mídia e pelos governantes, e fica guetizado, mas nem por isso, preso. Há outra galera que anseia por expressar outros perrengues, quer falar que sofre racismo na faculdade, quer falar da mina que tá afim, quer falar que é preta e linda sim, quer protestar contra o governo, quer falar que não agüenta mais trabalhar muito no MC Donald’s e ganhar miséria. Essa galera faz rap a partir dos seus lugares discursivos específicos, através das suas experiências e acho que esse espaço de manifestação não pode ser engessado e tradicionalizado, isso não converge com a perspectiva de uma música que anseia por desconstruções (pelo menos em alguns temas, se falarmos da representação da mulher em certos raps, vemos que ele sedimenta o patriarcado, ao invés de desconstruí-lo). A nova geração a que você se refere que toca na perifa é mais velha guarda na verdade, Viela é muito das antigas, Atitude Feminina acho que ouvi pela primeira vez quando eu tava na 8ª série, Tribo da Periferia eu cantarolava na 5ª série (tenho mania de separar minha vida a partir da vida escolar, foi mal), Álibi então tempo pra caramba, “Guindart 121: vou ter que assinar” ouvia na FITA CASSETE e baixo pq minha mãe odiava. O que tiro disso é que são músicas icônicas que fazem a cabeça de várias gerações há tempos, com uma receita fixa, mas acredito que ainda estamos por ver um grupo que surja por agora e que segure o rojão do rap mais militante, nesse formato que a galera das antigas sustenta. Minha aposta é de que as angústias hoje se misturam e que forjar um tradicionalismo é um tiro no pé. Emicida, Conká, Kamau não vão tocar no baile da Smurphies, por exemplo, pq é um público que curte gangsta, peso (quando eu era pirralha, a gente falava peso) e tá interessada em outras músicas, mas daí falar que eles não tocam nas periferias, acho arriscado e leviano. Ah, espero que o convite não tenha sido só ironia,meus amigxs n curtem muito rap, quando curtem não é pra ir pra festa, acabo não indo muito pro rap, infelizmente. Até!

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  5. fiquei no meio entre Andressa e "vamos mudar", vou refletir pra escrever melhor depois...

    não acho nem tão perto nem tão distantes as tais "gerações", mas acho sempre realmente bom ter o olho MUITO aberto em relação ao elitismos que consomem pessoas de todas as cores, porém, com as(os) pretas(os), não as livra das N violências que sim, ainda MUITO nos rondam independente de títulos ou jargões...

    Acho tudo muito espiralado e dinâmico, nú! Mas não acho as coisas simplesmente "fluidas" não, e essa sociedade urbano industrial tecnológica, normativo legalista sem escrúpulos, é especialista em recriar monstros sob roupagens de "fluidez" e o tal "direito individual ao trânsito" (que vem a ser isso mell dells!)... (quem mais transita? pq mais transita? como?)

    Bem tortamente - pq sei que, absolutamente sui generis, nunca poderei nem sei se quererei cumprir nessa encarnação os aromas exigidos por tal representação social - hoje sou uma incipiente intelectual negra assim reconhecida por títulos e atuação, poeta que num tem como evitar possíveis formalismos, uma pesquisadora negra instigada(ara agunia!), ativista com peregrinações ronde aos poderes instituídos, enfim, e tenho um cotidiano de fluxos muito específicos que pra familiares e pessoas da quebrada podem soar como "dramas de frescura da 'patricinha' emergente" e que, mesmo compreendendo o pq de possivelmente me verem asim, sei que não são é só isso para mim e que integram legitimamente sim, pois sou, a vivência do povo negro atual que, humano que é sendo então certamente dinâmico, vai vivendo novidades e pedindo novidades de representação (violência fixista é mania do racismo, quero não!)... nisso, fico feliz em ver cantarolados (sempre tão bem soados aos nossos corações) algo's como "atual Rap variado que me represente", mas por outro lado, pensando nos "motores da história" - sem dúvida sim multicêntricos e amalgâmicos e nem por isso menos duros em seus núcleos tais - me preocupa pensar no que vale mais a pena, no que é prioridade para vigorar(sim, temos de fazer escolhas, Ação Afirmativa foi uma delas que mudando está a história desse país!) e nos riscos de o meu "ficar feliz" e exigir representação mesmo a custa de algo que possa incorrer em possível "mercantilização" e/ou "domesticação trágica" de algo vital para crítica e empretecimento que ainda precisa de muito para bastar, não ser uma assimilação colonial de um individualismo que "da ré no monza" e que não faz jus à nossas existências singulares sócio-simbolicamente tão caras ao nosso "sucesso" possível de agora (haja terapia!)...

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  6. (Na minha época também era "peso" Andressa, tsc, e lá em Brazlândia onde cresci, ver a galera do rap era "violentamente pacífico" para minha arredia auto-percepção preta, era o cortejo de um Quilombo sempre moderno e vigoroso, e é/foi certamente central para minha "pretice em movimento" de hojes em dias e além's...)

    PS: vejo galera branca bem nutrida com as cult'ices costumeiras - por cima da carne cerca dos capitais simbólicos de auto-estima coletiva e poder de decisão, acesso a tudo's e passeios, de o tal do "poder esbravejar o que é ou deixa de ser bom" - dançar Criolo e/ou Emicida (assim como ritmos de todo o mundo e N níveis de erudição, misturados a bregas, funks, pagodes, gírias e regionalismos de linguagem forjada... desespero de vazios, resgate pra não ficar pra traz ou transformação de tudo em vícios de consumo estético?), fico louquinha pq penso: "porra, mesmo que os bichos cantando sejam amigáveis na mídia, a critica das músicas é um soco no estômago dessa galera e elxs aí dançando, que mico e que ódio, querem sapatear com tanto que nos dói, sempre sorrir no final...", aí me apazigua em seguida: "mas deixa estar, gente como eu que sim tem estado por aqui, mesmo que não sejamos maioria, é O Público por excelência, e só nós vamos compreender na sussa, reverberar como mais ninguém até o fim com essas canções, elas valem demais para nós e inigualavelmente por nós (levemente ascendidxs socialmente, acadêmicxs das Ações Afirmativas, vivendo materialmente um pouquim melhor e tendo que conviver com as contradições disso...) que somos sim, ainda que em menor escala, povo preto vivenciando esse papel atual de deslocamento como fruto e também frutificando nossa "des-subalternização" histórica e astral!"

    Quando me vem esse lado, essa hora realmente grita “você sai do gueto, mas o gueto nunca sai de você”, assim me sinto perto da raiz e sem perder a noção de que na hora do pega pra capar de cada instante meu lado é o lado do povo, minha família, minha comunidade, sempre!
    "Para ser universal, saiba cantar sua aldeia..." - UBUNTO, nós por nós de N jeitos que vamos tendo direito! (isso é nosso DNAlma Afro, num tem senzala capaz de roubar e supostos combates e antagonismos forjados pela mídia ou o que quer que seja não podem derrubar jamais, não devem...), tudo isso é nossa's História's! Sabemos bem ou ao menos deveriamos saber pq faz sen-tindo, apesar de tudo e por tudo, faz sentido pensar a vida como um "nós"...

    =D

    Parabéns "filha preta", escreves lindamente! (Depois gostaria de conversar sobre o tal "patriarcado representado no rap"...!)

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  7. www.orienterj.com

    "falaram tanto de nós , mas olha nos ae de novo..
    o RAP era musica pro RAP, agora eh misuca pro POVO."

    Se oriente rapaZ.

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  8. Excelente texto, andressa. Ando muito interessado nesse debate, conversando com muita gente sobre. O debate trata sim de duas gerações, muito legal o título "a geração que revolucionou e a que vai revolucionar".

    Mas não são duas gerações tão fechadas assim. O racionais fala de uma situação diferente da que o facção fala. O facção representa mais a guerra atual, das milícias que o racionais, pra mim. Os dois maiores grupos de rap da atualidade são expressões de diferentes visões e gentes das quebras.

    Eu vejo da mesma forma o emicida, criolo, etc. Eles desenvolveram a carreira tocando no centro, mas o centro de sp não é frequentado só por boy. E nem principalmente, e até onde eu sei os shows deles não tem maioria branca. A rinha dos mc's, que é meio que o berço dessa geração, surgiu no centro. Assim como a estação de são paulo onde a galera fazia os primeiros grupos de break tbm. Assim como o setor comercial sul e o conic e a rodoviária aqui em bsb foram espaço de encontro entre muita gente. Vc tocou no X, e eu me lembro bem que há uns 15 anos, quando eu conheci o rap, não foi pelo racionais, mas pelo cambio negro. E na época o debate que pipocava - e desarticulou aquela geração do df - era muito em função de tretas sobre quem era mais quebrada, envolvendo o cambio negro. Criticavam o x pq ele só cantava pra boy, pq o cambio negro tava levando o rap pros boy. A história só se repete uma vez como tragédia e outra como farsa...

    beijão, valeu pelo texto!
    Paíque

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  9. Natália e Paíque, vocês são inspirações pra minha cuca. Boto fé de conversas mesmo, Nat, são muitas trocas preciosas que não cabem em textitos!
    Concordo com vc, Paíque, em relação às gerações não serem tão fechadas, eu quis separar mais pelo surgimento dos grupos na cena, nem tanto pela temática-mote, taí algo meio difícil de enquadramentos... rs
    Valeu o incentivo, queridxs, isso é importante pra caramba!!
    Beijxs! =*

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